quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Se liga, rs.


Ele nasceu em algum lugar nessa história, porém um lugar longe daqui. Eu não o encontrava constantemente, mas inúmeras vezes já cruzei com ele pelo corredor. Nunca tivemos o mesmo português, mas nosso cumprimento era o suficiente para entendermos que um tinha notado a presença do outro naquele cenário. E eu não acompanhei teu desenrolar nessa historia, nem você o meu, só o que eu sei é que você apareceu aqui, bem no meio de um texto que não teria motivos pra ter começado. Você apareceu com o seu mundinho no meio de uma vida repleta de mundinhos. Que azar o seu.
                - Tinha alguém na chuva, este abraçava a si mesmo como tentativa de se proteger do frio, ao lado dele havia uma marquise, mas era como se ele necessitasse se martirizar, sentir a chuva e a conseqüência dela, era como se ele precisasse que a chuva caísse em seu rosto permitindo-o chorar sem que ninguém percebesse. Aquele era um modo dele estar triste e se fazer forte. Ele apenas agüentava a tempestade sem falar nada, apenas aceitava. – Eu debaixo do meu guarda-chuva observava toda aquela cena, era um estranho emaranhado na sua própria dor, remoendo as suas entranhas sem reclamar de nada.
No outro dia eu o encontrei atravessando uma avenida e seguindo em frente, decidi acompanhá-lo disfarçadamente e ao longo do trajeto eu notei que ele sorria e fazia outras pessoas sorrirem, era como se fosse outra pessoa e já não sentisse mais nada, nem se lembrasse da noite anterior. Eu me perguntava a todo instante se aquilo se repetiria sempre que ele se sentisse triste, mas não havia resposta, eu não o conhecia o suficiente.
Passei a observar aquela vida de longe e quando a tempestade estava por vir eu tentava colocar cobertores no caminho, guarda-chuvas ou qualquer outra coisa que pudesse ajudar, mas o caminho que ele tomava era outro, ele nunca repetia o trajeto... Eu demorei pra perceber que aquilo acontecia porque ele sempre seguia em frente. E o mais interessante é que os seus amigos pareciam não perceber quando ele estava triste. E esta foi outra coisa que eu demorei pra notar, ele não transparecia dor alguma – Era assim que eu pensava até olhá-lo nos olhos e enxergar lá a lembrança das tempestades. Por algum motivo aquilo me apertou o peito.
E como eu já tinha dito anteriormente, ele apareceu no meio da minha literatura e se tornou próximo a mim, eu preenchi o seu mundo de confusões, duvidas curiosidades e etc. Sentimentos que antes não ocupavam aquele lugar. E ele preencheu o meu mundo de tranqüilidade e de uma amizade sincera.  Nesse tempo eu passei a conhecê-lo um pouquinho mais e conheci também a mim mesma. E foi nesse conhecimento que eu percebi o quanto eu iria alterar aquilo tudo tão perfeitinho e bem engrenado, foi só ai que eu notei a nossa verdadeira diferença.
Por favor, me escuta: “Ontem” eu conheci um pouco mais de mim mesma e eu só percebi no quanto eu tinha me tornado porque afetou outras pessoas a quem eu gosto muito e eu não quero que lhe afete.  Eu não quero que você finalmente perceba, finalmente conheça a pior parte de mim. Enquanto eu pude lhe ajudar foi ótimo, fico imensamente feliz por isso. Mas não vai ser assim sempre, não vai ser assim, acredite. É um favor que me faz.

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