
- Tinha alguém na chuva, este abraçava
a si mesmo como tentativa de se proteger do frio, ao lado dele havia uma
marquise, mas era como se ele necessitasse se martirizar, sentir a chuva e a conseqüência
dela, era como se ele precisasse que a chuva caísse em seu rosto permitindo-o
chorar sem que ninguém percebesse. Aquele era um modo dele estar triste e se
fazer forte. Ele apenas agüentava a tempestade sem falar nada, apenas aceitava.
– Eu debaixo do meu guarda-chuva observava toda aquela cena, era um estranho
emaranhado na sua própria dor, remoendo as suas entranhas sem reclamar de nada.
No outro dia eu o encontrei atravessando uma avenida e
seguindo em frente, decidi acompanhá-lo disfarçadamente e ao longo do trajeto
eu notei que ele sorria e fazia outras pessoas sorrirem, era como se fosse
outra pessoa e já não sentisse mais nada, nem se lembrasse da noite anterior.
Eu me perguntava a todo instante se aquilo se repetiria sempre que ele se
sentisse triste, mas não havia resposta, eu não o conhecia o suficiente.
Passei a observar aquela vida de longe e quando a tempestade
estava por vir eu tentava colocar cobertores no caminho, guarda-chuvas ou
qualquer outra coisa que pudesse ajudar, mas o caminho que ele tomava era
outro, ele nunca repetia o trajeto... Eu demorei pra perceber que aquilo acontecia
porque ele sempre seguia em frente.
E o mais interessante é que os seus amigos pareciam não perceber quando ele
estava triste. E esta foi outra coisa que eu demorei pra notar, ele não transparecia dor alguma – Era assim
que eu pensava até olhá-lo nos olhos e enxergar lá a lembrança das tempestades.
Por algum motivo aquilo me apertou o peito.
E como eu já tinha dito anteriormente, ele apareceu no meio
da minha literatura e se tornou próximo a mim, eu preenchi o seu mundo de
confusões, duvidas curiosidades e etc. Sentimentos que antes não ocupavam
aquele lugar. E ele preencheu o meu mundo de tranqüilidade e de uma amizade
sincera. Nesse tempo eu passei a conhecê-lo
um pouquinho mais e conheci também a mim mesma. E foi nesse conhecimento que eu
percebi o quanto eu iria alterar aquilo tudo tão perfeitinho e bem engrenado,
foi só ai que eu notei a nossa verdadeira diferença.
Por favor, me escuta: “Ontem” eu conheci um pouco mais de
mim mesma e eu só percebi no quanto eu tinha me tornado porque afetou outras
pessoas a quem eu gosto muito e eu não quero que lhe afete. Eu não quero que você finalmente perceba,
finalmente conheça a pior parte de mim. Enquanto eu pude lhe ajudar foi ótimo,
fico imensamente feliz por isso. Mas não vai ser assim sempre, não vai ser
assim, acredite. É um favor que me faz.
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