sábado, 28 de janeiro de 2012

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“É incrível, as coisas por aqui não mudam nunca” – Foi o que pensei quando entrei na sua casa – “A poltrona continua no mesmo lugar e o controle encima dela. Um largo sofá no meio da sala, a TV, e claro: a vassoura atrás da porta.” – Porém dessa vez eu sentei ali, no sofá. E escutei você dizendo que iríamos assistir ao seu programa favorito: “sofrer é um hobby”, não demorei a perceber o quanto a tarde seria longa, mas não contestei a sua decisão. Ofereceu-me pipoca, água, refrigerante e outras coisas mais, dessa vez eu recuso. Prefiro evitar bagunças, sujeiras. Na metade do programa eu me levanto, vou atrás da porta, pego a vassoura e a coloco na sua devida posição.  “Não vai precisar mais, eu to indo” - é o que te digo, quando você me olha sem compreender.
E agora vocês podem me julgar, dizendo que não cumpri meu trato, que não assisti o programa todo, que sai daquela sala cedo demais, mas garanto que não. Saí no momento certo, lavei minhas mãos, eu não suportaria ver o resto do programa, a parte onde o rapaz se joga da ponte sem pára-quedas, como quem fosse voar. Na verdade eu errei foi no começo, não soube entender o objetivo do programa: sofrer. Eu quis colocá-lo dentro de uma redoma de vidro, quando vi o que poderia acontecer com ele. Eu desejei que ele não pulasse, eu desejei que ele permanecesse inteiro, mas era justamente isso que ele não queria. E o final todos nós já conhecemos, ele pula e vira patê de gente lá embaixo.
Eu chego na minha casa, me jogo na minha poltrona, que é de onde eu não deveria ter saído e todas aquelas cenas vão se repetindo na minha mente. Uma após a outra. Sinto um aperto no peito... Sabe de uma coisa? Vou dormir pra ver se sonho. Se sonho!

Um comentário:

  1. .


    Eu permito que você me fale do seu
    melhor ou do seu pior programa, já
    que o som da sua voz, as caras e
    máscaras que você me apresentar se-
    rão somente suas e o meu deleite se-
    rá ouvi-la no seu colo, junto ao seu
    coração pulsando no seu peito.
    O resto será o sono que virá ou não,
    mas o que importa, se no seu colo
    eu sempre sonhei estar?

    silvioafonso





    .

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